Quando se fala em natureza vêm-me à memória imagens do mar, dos rios, ribeiras, mas também das montanhas que os meus olhos viram e amaram desde a mais tenra idade, e ainda de outras que afortunadamente viria a conhecer ao longo da vida.
Hoje, até podia aqui colocar imagens dessas belezas longínquas que me fascinaram, mas sinto que as "minhas" nossas serras, tão perto do olhar e do coração merecem destaque e atenção pelo muito que sofrem.
Estamos à beira de uma catástrofe de consequências imprevisíveis, nefastas e dramáticas para a humanidade de todos os cantos do planeta e, infelizmente, descura-se a protecção das montanhas que com as suas nascentes, florestas, vegetação, flora e fauna bem podia ser um garante de equilíbrio e sobrevivência.
A serrania mudou! Nada é como foi e também não se quer que volte a ser. Apenas se deseja melhor sorte do que aquela que neste momento está a acontecer, com sucessivos incêndios que delapidam e provocam erosão das terras e levam ao desaparecimento de espécies únicas.
Os grandes nevões que outrora cobriam montanhas e vales durante dias e dias, deixam de existir e o mesmo sucedeu com pastores, resineiros, pequenos e médios agricultores, que aqui em terrenos de socalcos a agricultura era e é muito dura e de parco rendimento.
Porém, não posso deixar de realçar a qualidade e o sabor único do feijão, milho, batatas, couves, alface, tomate, centeio, frutas, etc.... que aqui se cultivava e ainda cultiva - por meia dúzia de lutadores (as), gente de espírito guerreiro e com amor à terra e verdadeiros(as) guardiãs deste paraíso onde se respira e sente a maior serenidade e paz que é possível.
Sim, é mesmo um paraíso! Infelizmente tarda que assim seja reconhecido, com prejuízo de quem luta todos os dias por se manter aqui e sobrevir nas condições adversas desta interioridade mal-amada e ostracizada pelos poderes instituídos, esquecidos que do valor do oxigénio que respiram, e da chuva que não encherá as barragens de onde sai a água que bebem porque caminhamos para um deserto
O grito pungente da natureza que ecoa a cada novo cataclismo devia ser suficiente para mudar mentalidades, alterar políticas, fazer o que está certo! Mas não! Se nem depois de um vírus que nos isolou e fez sentir a importância deste lugares e cantinhos para a nossa sobrevivência nos fez acordar, nada mais o fará!
Vivemos na ilusão de que não é nada connosco e nada disto nos afecta... um dia aparecerá a solução... e lá vamos ignorando como tristes mortais... dizendo que nos outros lados também acontece. E, mesmo sabendo que estamos enganados, "assobiamos para o lado"! Que vamos deixar desta natureza às futuras gerações para que possam respirar, ter água, alimentar-se, viver?
Não podemos ignorar que o que se passa na Antártida tem aqui repercussões tal como têm lá - ou noutro lado qualquer - os fogos, a desertificação, abandono, culturas que esgotam a terra, destroem recursos hídricos e habitat naturais de animais, aves e plantas. Tudo vai continuar a ser destruído enquanto não houver um plano bem pensado para o ordenamento florestal e a valorização deste um território.
Até aqui, depois de mais um incêndio, a meia dúzia de eucaliptos que um dia alguém plantou, bem visíveis na imagem, e ainda as sementes que os pássaros se encarregam de disseminar vão deixar-nos a braços com dezenas de pés que não queremos, teimo em arrancar, mas de nada vai valer.
É certo que a natureza se regenera, como que a dar-nos "bofetadas" pelo nosso desleixo em relação a ela. A melhor prova são estes medronheiros, devastados completamente, mais uma vez, por um incêndio que aconteceu aqui - e dele dei conta - em 2020, estão de novo verdíssimos, maravilhosos, com fruto e flor!
A humanidade vai definhar, talvez desaparecer, mas o medronheiro, também por aqui chamado ervedeiro, voltará sempre mais forte! É uma das minhas árvores de eleição; bela, resistente e das poucas com fruto e flor ao mesmo tempo! Um prodígio da bendita natureza!
Sei que mais um ano vai passar, muito se falará da natureza, com planos e planos..., mas nada vai mudar. Eu, pouco ou nada posso fazer. Continuo a aguardar com esperança um plano integrado para toda esta região que a salve do mais completo abandono florestal com consequências nefastas para os de perto, mas também os de longe porque a natureza é global!