A Minha Homenagem já cheia de saudade à Ti Piedade Pinto Lisboa, mais um rosto, um sorriso, direi até que é mais um símbolo da nossa terra que desaparece e nos deixa pobres e inconsoláveis.
Moradora na Ponte era uma das guardiãs daquele lugar mítico, deixou-nos antes de Julho terminar e tão discretamente como gostava de ser e estar.
É essa a imagem que me fica da Ti Piedade, que fazia parte da nossa vida e dos bons dias ou boas tardes a caminho da fonte, tinha brio no seu jardim de cravos e de muitas outras flores, como as rosas vermelhas que em Maio estiveram particularmente bonitas, mas não sei se chegou a ver.
Sentada à porta de casa ou num banquinho mais adiante, quando por ali não estava, e se tinha a porta entreaberta chamava-a e ali ficávamos a conversar sobre vivências da sua mocidade com minha mãe, e a recordar a amizade que eu e a filha mantivemos, mesmo na na lonjura de outro continente, com cartas e fotografias de Moçambique para Angola e vice-versa, bem como a ligação familiar com o meu tio Zé - de quem sempre queria notícias - outrora vizinho na Ponte, depois em Namaacha onde se tornaria compadre.
Senhora de coragem, enfrentou a dor das perdas que a vida lhe reservou. Chorou, sofreu, ergueu-se, continuou.
Das suas mãos prendadas, e enquanto pode, tudo saia perfeito: o pão, o queijo, doçarias, rendas, rodilhas e os abanadores, coisas lindas que faziam parte do artesanato que ali na “sua” rua e no “cantinho” vendia.
Sempre pronta a ajudar também gostava de ensinar e muito ainda tínhamos a aprender com ela.
Em Junho, agora já noutra casa, falamos longamente da sua fragilidade imposta pela velhice e a doença que a impossibilitava de estar sozinha, mas continuava de mente lúcida e podia fazer sozinha tanta coisa que, amigas mais novas não podiam, e reconhecia ser uma bênção.
Marcamos novo encontro para Agosto, que infelizmente já não vai acontecer. Porque era cedo e partiu no vento... era tarde e não houve tempo da merecida despedia.
Não foi isso que combinamos Ti Piedade!
Se eu voltar à Ponte, provavelmente verei as janelas azuis da sua casa fechadas, admirarei mesmo assim o belo rendilhado da varanda, e sei que ficarei amargurada por aquela travessa, outrora cheia de vida, estar agora tão vazia, silenciosa e abandonada.
Porém, quero recordar para sempre o seu sorriso, a sua gargalhada, o gosto pelas flores, os filhos, os netos, toda a sua família.
E, pela fé que professava, na igreja onde tantas vezes a encontrava o seu lugar lá estará, o meu olhar com o dela se cruzará e, sem que ninguém perceba, juntas cantaremos um hino à VIDA!
Até um dia, Ti Piedade!