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quarta-feira, 27 de setembro de 2023

VOLTAR À RAÍZ

Voltar a casa, à aldeia, à serra que se reveste de ver e ao aroma que dela emana. Nada aqui é novo aos meus olhos. Porém, de cada vez que volto nunca é igual. 
Um convite a captar imagens porque a paisagem não cansa e, agora que os telemóveis se tornaram máquinas fotográficas leves, praticas e sempre à mão, são um convite viciante a querer guardar o momento que se abre diante dos meus olhos. 
Não há bela sem não... e vejo nesta imagem o que não queria ver, eucaliptos que, como já aqui escrevi noutra ocasião, por este andar serão em maioria dentro de pouco tempo à volta do Sobral. 
Saio de casa e procuro outro verde que me encha mais os olhos e, felizmente, encontro-o logo ali, nas Ladeiras, nesta encosta de oliveiras e sobreiras, que as belas paredes de xisto seguram. 
Desço a caminho do Cabecinho. Olho, e já não se vejo vestígios do negro com que o incendio de 2020  "pintou" esta encosta. Por entre o verde, sobressai um pequeno aglomerado de casario, em que muito poucas casas ainda mantem o tradicional telhado de lajes e as paredes na bela pedra de xisto. Ainda assim, não fora a "praga" eucaliptal até diria que o cenário é de postal! 
Voltando às casas, no caso das paredes, estou convicta que se fossem picadas a grande maioria revelaria uma bela surpresa. Entristece-me profundamente que não tenha havido ninguém, em tempo de antanho, a chamar a atenção para a riqueza e beleza das paredes em pedra, que são uma verdadeira obra de arte. 
Mais me entristece ainda, o facto de hoje, com tudo o que sabemos e conhecemos, o mau gosto e a descaracterização desta terra continue impunemente! Cada um põe o telhado que quer, como quer e na cor que lhe apetece, e o mesmo acontece com a cor das paredes, portas e janelas. 
Nem sequer estou a pensar que quem tem telha a devesse tirar, ou que todos picassem as paredes para colocar a pedra à vista. Seria tarefa de muitos quereres só possível com um grande plano de recuperação em marcha, envolvendo mecenas, habitantes, entidades e dinheiro. Até que tal aconteça bastava apenas que cada um olhasse bem à sua volta, e quando precisa de mudar alguma coisa, o fizesse com olhos de ver ficaria tudo bem mais harmonioso. 

Ainda assim, em cada regresso há um sentimento de pertença impossível de olvidar e, a cada partida, um sentimento de saudade que dói, ao pensar, que pode ser a última vez que aqui poisa o meu olhar.

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