A sina que persegue este território tão bonito é o flagelo ciclo dos incêndios que regra geral começam sem causa aparente - fogo posto - ou "saltam" do cimo da serra já vindos de outras localidades.
No ano de 2017 a serra já paticamente recuperara do incêndio anterior - cuja data não sei agora precisar - e não gostando de ver os "tufos" de eucalipto que já por lá pontuavam, inda assim a vista que as janelas e varanda da casa me oferecia era soberba e assim se manteve até Julho de 2020.
Em Agosto de 2020, a janela do "meu mundo" mostrava-me a paisagem mudada com os estragos do incêndio de 29 de Julho que "varreu" as Barrocas do Muro e todas os outros locais à volta subiu a encosta e veio cobrir de negro parte deste pulmão verde.
Infelizmente, não têm conta o historial de vezes que o fogo já aqui passou e destruiu a pouca riqueza de quem aqui vive e se esforça por manter este recanto com vida, resistindo heroicamente a cada adversidade. Comove-me e devia ser compensado por isso!
Sempre aqui houve incêndios - tal como noutros lugares à volta - mas num tempo em que não faltavam actvidades na floresta com pastores, resineiros, lenhadores e serradores. Tudo era usado e nada se desperdiçava pelo que não havia muita coisa para arder. Nos campos e caminhos da serra não faltava gente a cruzar-se num vai e vem contínuo desde os primeiros alvores até ao escurecer.
A aldeia era, pode dizer-se, densamente povoadas e as populações com os meios que tinham e o conhecimento empírico dos ventos conseguiam controlar com esforço e tenacidade os fogos que iam acontecendo - provavelmente naquele tempo mais por causas naturais como as trovoadas - até porque não havia bombeiros nem estradas que permitissem aqui a sua chegada.
Porém, o problema começou a agudizar-se a partir dos anos 80 sempre com consequências mais nefastas, mas nem assim, governos e autarquias se sentaram à mesa para gizar um plano a longo prazo de prevenção que visasse dar mais meios às juntas de freguesia para ajudarem a minimizar a destruição da floresta autóctone, as terras, culturas, animais, casas e garantir a segurança das pessoas.

Se as poucas e pobres terras da nossa família: Barrocas do Muro, Cadaval, Giesteira arderem tantas vezes que já não sei contabilizar, aos terrenos, olivais, vinhas e pinhais dos outros moradores tem acontecido ainda pior porque os campos estão cultivados, têm animais para alimentar e a há sempre um incontável número de colmeias destruídas sabendo nós a importância delas para todo o ecossistema e vida na terra.
Esta Serra do Sobral ou das Três Beiras - nome que lhe assenta muito bem - enche-me o olhar já a vi vestida de negro várias vezes. Nunca -pelos relatos que me chegam- como desta vez em que vou levar "um murro nos estomago" quando abrir a janela. E, pior ainda, dentro de alguns anos a vegetação que a cobre ser cada vez mais "inflamável" e que já nada tem a ver com o verde pinhal e aquela encosta de olival cada vez mais sumida.

Não sei, sinceramente, pelos limitados conhecimentos que tenho como dar a volta ao problema, mas sei que nas últimas décadas muitos estudos foram feitos, muitas opiniões dadas e sempre se enveredou pelo caminho mais fácil... monocultura e ainda por cima de eucalipto que se tem espalhado como uma "bomba" incendiária por todo lado dado que a sua propagação após os incêndios mais que triplica. E, quem nunca plantou, eucaliptos vê em cada ano as suas terras a cobrirem-se deles, sem qualquer garantia de rendimento, porque tudo vai arder de novo e ainda empobrecem mais as terras e as pessoas.
É certo que muitos de nós são culpados pelo abandono parcial ou total das terras, mas a verdade é que não há como não o fazer pela impossibilidade de tirar qualquer rendimento que permita pelo menos a sua manutenção.
Mas, se a floresta pode gerar riqueza e é um bem inestimável pelo oxigénio que fornece ao país inteiro e pode ajudar a minimizar os efeitos de estufa causadores das atrações climáticas dão origem a catástrofes cada vez de maior dimensão o que se espera para proteger a pouca VIDA que nos resta?
Como é possível que tenhamos atravessado décadas de tanta terra queimada tantas mortes todos os anos e com a tragédia de 2017 atravessada na alma e no coração, ainda não tenha sido posto em prática um PLANO com o envolvimento e responsabilidade de TODAS a forças políticas, bombeiros, protecção civil, câmaras, juntas de freguesia e quantos tenham as melhores ideias e soluções para, de uma por todas acabar com este flagelo.
Não sei se ainda é tempo, mas que o tempo se esgota disso não tenhamos dúvidas. Importa que os responsáveis políticos, de uma vez por todas, se ponham no lugar do povo e venham ver as condições que cada aldeia ou vila tem para se defender do fogo.
Até lá, por favor: Mais passar de culpas e acusações, NÃO!
Mais palavreado e discursos de ocasião, NÃO!
Mais comissões de inquérito, NÃO!
Mais leis que não servem para nada, NÃO!
Mais estruturas de comando que não se entendem, NÃO!
O verde que aparece nestas fotos desapareceu todo! AJAM porque o POVO está cansado de trabalhar para manter um país verde que fornece o vital oxigénio para cada um de nós sobreviver, mas tem como "paga" nos incêndios perder as culturas, os pomares, as vinhas, os olivais, pinhais, animais, as casas e muitas vezes a VIDA. Hoje é o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação. Isso faz-me pensar que é preciso mesmo muita oração para que haja um milagre!