Neste tempo de confinamento, a nostalgia de locais como este acentua-se porque não é possível viajar e passear como nos outros anos. E, viajando, convém ter os devidos cuidados e precauções, pois as pessoas das aldeias têm de ser resguardadas dos malefícios da pandemia.
Por isso, como não vou, recordo com imagens de 2016, a "nossa" ribeira de água fria e cristalina, que já fez mover este e outros lagares, e ainda faz mover dentro da aldeia este e outro moinho., e há quem fale sobre isso…
Diz o Francisco Santos: "o lagar que muito trabalhou é já tricentenário... e o meu avô das Vinhas disse-me em pequeno que ouvia falar aos antigos que vinha azeitona de Casegas e outras aldeias de mais de longe para ser aqui moída".
E, muitas vezes, a ribeira corre tanto que até parece um rio, como disso é prova o poço do Ti Abrantes, em queda de água bonita e bastante límpida, sinal de que a cheia já leva alguns dias.
A propósito desta parte da ribeira refere também o Virgílio Neves que: "a pedra lá na margem direita onde se inicia a levada do moinho e do lagar fundeiro, era a marca de referência para as grandes cheias nos invernos da minha infância. Podia (e pode) ver-se da minha varanda. Quando a água "tapava" a pedra, tínhamos cheia de meter respeito com a água passando a poucos centímetros do largo/rua."
Em resposta vem a legenda dada pelo Francisco Santos: "todos nós sobralenses temos estas referências das cheias e em locais variados na Ribeira como também no olhar da ponte para a Eira ou na pedra do tio Pacheco à Ponte..."
É esta interacção que possibilita o conhecimento da ribeira, porque quem mais perto dela vive ou viveu e histórias sem fim tem para contar. De todas, a mais triste será certamente a do menino que aqui caiu e rapidamente desapareceu no turbilhão da água.
Conta-se que num dia de Inverno, em que a ribeira transbordada e a água rugia em ondas de meter medo, uma criança aventureira, não medindo o perigo, foi saltar para a ponte que ao tempo aqui existia e não tinha protecção alguma em todo o seu comprimento.
Um salto em falso, desatenção ou muita água que nesse momento veio com mais força, fizeram acontecer a tragédia do desaparecimento de um menino que tinha tanto para viver e aqui perdeu a vida. Depois disso outras precauções foram tomadas e, felizmente, nunca mais aconteceu nada semelhante.
Em quase final do Outono as cores aqui são uma verdadeira miscelânea para pintor imortalizar, que aliando esta maravilha ao sussurro da água que deslizar agora mansamente, fazem com que se sinta vontade de aqui ficar horas a olhar.
Quadro bucólico e ternurento em tons de prata e ouro. Um tesouro para estimar, respeitar, melhorar e preservar por quantos dele se aproximem.
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