CANTO X

"Sobral de São Miguel, berço dourado,

Nenhum igual a ti, ó meu amor.

Terra de meus pais, canteiro amado,

Repleto de mil bênçãos do Senhor;

De muitos naturais foste cantado,

Em cítaras e harpas de louvor.

Rezas, humilde, prostrado, ao fundo,

Como que a lembrar o final do mundo.

Teus filhos comem, na dureza, o pão,

Amassado no esforço e no suor:

No fundo do Lugar, no Caratão,

Por todos os lugares ao derredor,

Soará sempre em nosso coração

E no fundo da alma com mui fervor:

Sobral acolhedor, hospitaleiro,

Não igual a ti no mundo inteiro.

Povo imortal dos teus e meus avós,

Eu te saúdo, canto e venero.

Vives distante, abandonado, a sós;

Mas ver-te alevantado ainda espero

Após tremenda luta, guerra atroz, 

Num grito enorme, final desespero:

«Não deixem morrer meu Sobral, querido.

Assim «por eles», meu grito seja ouvido!"

Pe. António Pinto da Silva 

Cantando os Hermínios

"QUANDO O POVO DEU O NOME A SOBRAL DE S. MIGUEL"

Assim escrevia no ano passado o Notícias da Covilhã, em reportagem feita com moradores, nos 50 anos de Sobral de S. Miguel.

Hoje, que já se completam 51 anos, é interessante recordar estas imagens e manter viva a memória de um povo que se bateu para ter nome próprio. 

Não há condições para festas, mas não deixa de haver Parabéns a Sobral de S. Miguel e a todos os sobralenses. 

O SILÊNCIO PERDIDO

É verdade, em plena serra, o progresso fez perder o silêncio destas paragens onde outrora apenas se ouvia o vento, a chuva, a neve, a água, os pássaros, ou os pastores e o seu gado.

Parques Eólicos foram construídos ao longo das serras para as chamadas energias limpas e renováveis, que, não obstante o mérito de tornarem o planeta mais sustentável, (espera-se...!) não deixam de desvirtuar a beleza paisagem.  

Também é certo que estas "torres" são imponentes, impressiona a disposição em que estão alinhadas e o rodar veloz das suas hélices quando o vento as fustiga. De noite, com as luzes de sinalização acesas, parecem pequenos pirilampos a brilhar em competição com as estrelas!

Por causa delas foram feitos caminhos que agora se podem percorrer com maior segurança. Mas, como em tudo na vida, o futuro dirá se esta opção trará outras consequências para além das que já conhecemos: o barulho ensurdecedor que se faz sentir nas suas imediações o que leva ao afastamento de aves e outros animais que deviam andar por aqui. 

É um caminho que perdeu o silêncio, mas que ainda assim se pode fazer em tempo de quaresma para ajudar a reflectir na importância do equilíbrio da natureza, como nos recomenda o Papa Francisco na “Laudato Si”. 

CAMINHOS PARA A QUARESMA

Ai está, de novo, o Tempo da Quaresma, a propor-nos um caminho de despojamento, sacrifício, atenção aos outros, purificação de pensamentos, palavras e acções.  

As serras, e estas em particular, remetem-me para esse tempo quaresmal pela dureza dos caminhos, e pelo despojamento e humildade da paisagem, mas não deixando de ser formosa. 

Há na serra uma beleza única que me extasia o olhar;  pelas cores sóbrias da vegetação em que o roxo prevalece - mas pincelado aqui e ali por rasgos de amarelo - nas muitas pedras, na neve que ao longe veste a Estrela e na água que escorre límpida pelas fragas ou pelos imensos barrocos.

Sinto vida em cada passo percorrido, em cada folha e planta que toco e o barulho próprio da natureza acalma-me todos os sentidos.

Não admira que as serras e os montes sejam uma referência para quem deseja abstrai-se do mundo, na procura de silêncio e um sentido para a vida. 

Aqui, onde o mundo parece estar aos meus pés é um lugar privilegiado para parar e ficar em contemplação, meditação e oração. 

É um tempo para estar com Deus e sentir a sua presença, na esperança de que me renove a fé, a força e a alegria para caminhar os 40 dias, rumo à Páscoa. 

"PÕE-ME COMO UM SELO SOBRE O TEU CORAÇÃO"

"Põe-me como um selo sobre o teu coração, como um selo sobre os teus braços; porque o amor é forte como a morte, a paixão é violenta como o Sheol.* Suas centelhas são centelhas de fogo, uma chama divina." Cântico dos Cânticos 8,6

Estas palavras inscritas na Bíblia são para mim as que melhor definem o amor que uniu a vida toda a Sra. D. Maria Isabel Caratão e a seu marido Sr. Alexandre Caratão, casal que viveu a sua vida terrena até há bem pouco tempo ligado por um amor assim: forte e profundo. Dois corações unidos até ao fim dos seus dias terrenos, o que é uma felicidade e também uma inspiração. 

Deus, na sua infinita misericórdia e bondade, talvez tenha sentido que seria demasiada dor viver um sem a companhia do outro e, na verdade, partiram quase juntos para a sua última viagem, com apenas 15 dias de diferença -  Ele no dia 17 de Janeiro e ela no dia 1 de Fevereiro. 

Agora, tenho a certeza que estão agora no Paraíso a desfolhar o livro da sua bonita história de vida.

Alexandre Caratão era um grande SENHOR da rádio, da palavra escrita e falada, em Angola, no Rádio Clube do Huambo -Uma Voz Portuguesa em África. Depois na África do Sul e mais tarde em Portugal.

Pouco antes da independência de Angola, e devido a sucessivas ameaças de morte, viu-se forçado a deixar a "sua" muito querida rádio e o seu amado país rumo à Africa do Sul, tendo mais tarde decidido vir para Portugal onde também trabalhou na Rádio. 

Todas estas mudanças e consequentes adaptações não foram fáceis, e espero que o Sr. Caratão tenha deixado memórias escritas de todo o seu passado, pois a história só se escreve pelo testemunho de quem fez parte dos acontecimentos, e há ainda muitas pontas soltas da história que um povo viveu e seria importante juntar e não esquecer. 

Quero acreditar que ele está agora de volta à serenidade das belas praias da Baía Azul, Benguela, com o mais belo pôr-do-sol a aquecer-lhe a alma e a abraça-lo no seu regresso a casa.

Maria Isabel Caratão era uma bela senhora, dona de uma das melhores vozes da Rádio, que trabalhava também no Rádio Clube do Huambo. O seu programa da manhã, ao tempo destinado às donas de casa, pelo que hoje vejo nas televisões nos programas matinais -posso afirmar- em nada ficava a dever a estes, muito pelo contrário... e era na rádio!

Ainda jovem menina, vivia eu em Vila Artur de Paiva, escutava todas as manhãs o seu programa sem imaginar que um dia a ia conhecer, trabalhar com ela e com ela aprender tanta coisa que não sabia, principalmente sobre música clássica e os seus grandes compositores, culminando a nossa relação de afecto com o convite de que ela e o marido fossem nossos padrinhos de casamento o que prontamente aceitaram!

Depois da partida de Angola todos nos "perdemos" até encontramos o nosso "porto de abrigo" e estivemos anos sem notícias, até que um belo dia voltamos a abraçar-nos com uma imensa felicidade e um desfiar de recordações.

Fomos seguindo o percurso do Sr. Caratão pelas suas belas crónicas na rádio, mais tarde pelos vídeos que o Júlio Centeno foi disponibilizando através das novas tecnologias, mas a vida nem sempre é como se deseja e nos últimos anos os nossos contactos pessoais escassearam... Às vezes penso que é mesmo assim, de propósito, que nos vamos desligando uns dos outros porque sabemos da finitude da vida... 

Porém, há sentimentos e afectos que permanecem no coração e recordações que são eternas. Hoje, a Sra. D. Maria Isabel Caratão, se estivesse entre nós, festejaria mais um aniversário. Por isso, Esta é forma de a recordar e lhe prestar do fundo do coração a minha HOMENAGEM de amizade e gratidão desejando-lhe no céu um Feliz Aniversário. 

Até sempre, madrinha e padrinho. ❤️

RESERVA NATURAL DE "TORBIERE DEL SEBINO"

Ecologia e biodiversidade são palavras que entraram no nosso vocabulário - ainda bem - e falam-nos da importância deste mundo verde, azul e de muitas outras cores que é preciso preservar.

Diz do dicionário que ECOLOGIA é parte da biologia que tem como objectivo o estudo das relações dos seres vivos com o seu meio natural. 

E diz ainda o dicionário que BIODIVERSIDADE é  um Conjunto formado por todas as espécies de seres vivos existentes, nomeadamente em determinada região, pelas suas comunidades, pelos seus ecossistemas e pela sua diversidade genética.

Em Fevereiro, no dia 2, comemorou-se o Dia Mundial das Zonas Húmidas, e, sem desprimor de outros, logo me lembrei deste belo parque onde tive o privilégio de estar em Franciacorta, perto do Lago Iseo, na Lombardia, Itália, e do qual já publiquei algumas imagens em outras ocasiões. 

 

A Reserva Natural “Torbiere del Sebino”, declarada “zona húmida de importância internacional” ao abrigo da Convenção de Ramsar e Sítio de Interesse Comunitário (SCI) da rede Natura 2000, é considerada uma área prioritária para a biodiversidade no Vale do Pó, na Lombardia, pela diversidade  de "habitats" e espécies existentes no pântano-aquático.

Bem cuidado e preservado, este parque é excelente para caminhar, passear com crianças e começar a incutir-lhe o gosto pela natureza. 

Lugar lindíssimo onde apetece ficar em comunhão com a natureza a observar, desfrutar da paisagem, das cores, dos aromas e do silêncio...

Silêncio às vezes interrompido pelo chilrear e esvoaçar da passarada, ou pelas brincadeiras das crianças que correm à descoberta do melhor recanto e da mais linda flor.

O reflexo na água é como se fosse um espelho a revelar-nos o bonito efeito do "outro lado" da paisagem.

Nenúfares, planta aquática com flores de várias cores que encontramos em muitos lagos, também não faltam aqui sendo as flores brancas predominantes. 

Parque rodeado de montanhas, ao fundo o Lago Iseo, os caminhos, a sombra que se desfruta e a água que dá frescura a todo este ambiente, são razões mais que suficientes para um dia, se possível, voltar aqui a esta harmonia em mais um passeio de magia e, por que não, poesia! 

A ESCURIDÃO DOS DIAS

É avassaladora, cada vez mais dolorosa e profunda com muita gente que não consegue vislumbrar esperança nestes dias tomados pela pandemia.

Aos pés de Nossa Senhora, Mãe das Dores e da Consolação, depositamos todas as angustias da humanidade inteira e lhe pedimos que por ela interceda junto de Jesus neste tempo de provação. 

Que deste lugar de paz, de noites silenciosas, mas também dias luminosos em recinto coberto de multidão unida em fervorosa oração, possa vir sem demora alguma luz e consolação.

E, mais do que colocar velas a arder na noite, sejamos capazes de abrir o coração indo ao encontro do irmão que pede ajuda.