sábado, 30 de maio de 2020

PORTUGAL PROFUNDO

Com tesouros de encanto, emoldurados de xisto e o verde da paisagem, vida dura, mas onde há sempre alguém cheio de coragem que resiste.
Cenário de uma ruralidade única, que parece perdida no tempo, mas de um valor sentimental incalculável, para quem aqui nasceu ou tem raízes. 
Era aqui, a esta aldeia de Pereiro, que deviam vir os visitantes importantes, quando mais não fosse, pelo menos no Dia Mundial do Ambiente, que se vai comemorar a 5 de Junho. 
Talvez alguma coisa melhorasse para quem cá vive e cuida deste pulmão tão necessário a Portugal inteiro. 

quinta-feira, 21 de maio de 2020

O MAR E O CÉU

Céu e mar;
De azul milenar,
Para contemplar
Este mar de amar!
 No rochedo a Capela,
Abre portas de par em par
E no ano inteiro vela,
Pelos homens que há no mar.
 O mar, salgado de espanto
Vai correndo sem parar,
Rebenta em espuma e pranto
E a areia vai molhar.
 Meu olhar aqui se perde
Pelas ondas marejado,
Em sublime azul e verde
Fica o quadro pintado.
 Se o mar não puder ver 
Meu coração vai sentir,
Dor que não sei descrever
E deixarei de sorrir!
MM
Maio 2020

terça-feira, 19 de maio de 2020

SEMANA LAUDATO SI’

"O progresso humano autêntico possui um carácter moral e pressupõe o pleno respeito pela pessoa humana, mas deve prestar atenção também ao mundo natural e «ter em conta a natureza de cada ser e as ligações mútuas entre todos, num sistema ordenado».[8]
"«Quando os seres humanos destroem a biodiversidade na criação de Deus; quando os seres humanos comprometem a integridade da terra e contribuem para a mudança climática, desnudando a terra das suas florestas naturais ou destruindo as suas zonas húmidas; quando os seres humanos contaminam as águas, o solo, o ar... tudo isso é pecado».[15] Porque «um crime contra a natureza é um crime contra nós mesmos e um pecado contra Deus».[16]"
"São Francisco, fiel à Sagrada Escritura, propõe-nos reconhecer a natureza como um livro esplêndido onde Deus nos fala e transmite algo da sua beleza e bondade: «Na grandeza e na beleza das criaturas, contempla-se, por analogia, o seu Criador» (Sab 13, 5) e «o que é invisível n’Ele – o seu eterno poder e divindade – tornou-se visível à inteligência, desde a criação do mundo, nas suas obras» (Rm 1, 20)."
"A pobreza da água pública verifica-se especialmente na África, onde grandes sectores da população não têm acesso a água potável segura, ou sofrem secas que tornam difícil a produção de alimento. Nalguns países, há regiões com abundância de água, enquanto outras sofrem de grave escassez."
"Na realidade, o acesso à água potável e segura é um direito humano essencial, fundamental e universal, porque determina a sobrevivência das pessoas e, portanto, é condição para o exercício dos outros direitos humanos."
"Uma ecologia integral exige que se dedique algum tempo para recuperar a harmonia serena com a criação, reflectir sobre o nosso estilo de vida e os nossos ideais, contemplar o Criador, que vive entre nós e naquilo que nos rodeia e cuja presença «não precisa de ser criada, mas descoberta, desvendada».[155]"
Carta Encíclica LAUDATO SI' do Papa Francisco

segunda-feira, 18 de maio de 2020

SAUDADE e ORAÇÃO

Hoje é uma dia de saudade e oração pelo Tio Padre, que partiu para a viagem eterna neste dia 18 de Maio. O tempo - 16 anos - não fez esmorecer a recordação e a certeza de que continua aqui, bem vivo no nosso coração.
E porque o seu "Cantando os  Hermínios"  é sempre comovente e belo, aqui fica um dos "Cantos" que tão bem expressa o sentimento deste dia. 

Cantando a Estrela - Evocação
(...)
"Quero cantar-te como tu mereces
Mas falta-me talento, engenho e arte...
Por isso ergo a Deus as minhas preces;
Que a musa me acompanhe em toda a parte,
Conserve a neves brancas que ofereces;
E, tantos, tantos, possam contemplar-te;
E, felizes e contentes, como eu,
Saltar das tuas rochas para o Céu."

Cantando os Hermínios
Pe. António Pinto da Silva

sexta-feira, 8 de maio de 2020

MONSANTO: "ONDE EM CADA MANHÃ NASCE O MUNDO"

Nesta linda aldeia de Monsanto, conhecida com o a mais portuguesa de Portugal, mas também Aldeia Histórica, a vida de esperança que emergia é desfeita agora por uma pandemia.
Nesta altura em que praticamente o mundo inteiro -Portugal incluído- se debate com um pesadelo jamais imaginado chamado coronavírus (Covid-19), a desertificação aqui e em todo o interior centro, teve o efeito benéfico de livrar, até agora, esta aldeia e muitas outras da região da propagação do vírus
Nos últimos anos o turismo na região foi crescendo, registando agora um número apreciável de visitantes, que continuava a crescer, e se deliciava com esta paisagem e gastronomia locais.
A partir do final de Fevereiro tudo se alterou e um cenário apocalíptico horizonte se desenhou, com viagens interrompidas, reservas canceladas e o silêncio a pairar sobre a aldeia. 
Instala-se agora o medo onde agora se instala medo a pensar que se o turismo volta é possível que o vírus venha com ele e traga a morte, mas se não volta ainda haverá uma nona janela de oportunidade... ou tudo morrerá?
E, para infortúnio, se alguém adoece, já não pode contar com o médico ao "da porta", como acontecia outrora, em que o médico e conceituado escritor Fernando Namora cuidada das pessoas.
Desta terra disse Fernando Namora: "Cada manhã em Monsanto nasce o mundo. Lá me apercebi que a sombra é azul."
Portas e janelas fechadas, ruas desertas. Foram-se os caminheiros e aqueles que apenas queriam desfrutar da beleza da natureza, da rusticidade do local ou da genuinidade do toque e canto das Adufeiras.
Que os céus sejam clementes e olhem por estas gentes que tanto precisam de amparo. Porque eu e muitos mais vamos quer voltar e as saudades mitigar. 

terça-feira, 5 de maio de 2020

DIA MUNDIAL DA LÍNGUA PORTUGUESA

Navegavam sem o mapa que faziam

(Atrás deixando conluios e conversas
Intrigas surdas de bordéis e paços)

Os homens sábios tinham concluído
Que só podia haver o já sabido:
Para a frente era só o inavegável
Sob o clamor de um sol inabitável

Indecifrada escrita de outros astros
No silêncio das zonas nebulosas
Trémula a bússola tacteava espaços

Depois surgiram as costas luminosas
Silêncios e palmares frescor ardente
E o brilho do visível frente a frente

1979
Sophia de Mello Breyner Andresen |
 "Navegações", 1983

segunda-feira, 4 de maio de 2020

ROSAS, MUITAS ROSAS

Rosas, muitas rosas,
Onde não crescem espinhos,
Apenas beleza e perfume
Para enfeitar os caminhos.
 Quem não gostará de rosas
Para enriquecer o jardim?
É das flores a rainha
Vestida de belo cetim!
Há hastes cheias de rosas
Que se enleiam com vigor,
Desprendendo-se formosas
Como que a pedir amor.
 Janelas assim adornadas
São de quem passa espanto.
Rosas, belas, mui amadas
E o meu supremo encanto.
 Não há rua, nem viela,
Que na aldeia de Sobral,
Não tenha a rosa mais bela
Para entrar no roseiral.
E o contraste é a preceito
Entre o preto e o vermelho
Do xisto em que o muro é feito
E a rosa se vê ao espelho!
Deixem assim livres as rosas
Beijadas pelo o sol e o vento,
De pétalas finas, airosas,
Viverão muito mais tempo!
MM
Maio 2020

domingo, 3 de maio de 2020

TRIBUTO A MINHA MÃE

Que um dia por amor me deu
O sopro de vida primeiro
Entre o Ribeirinho e o Barreiro,
E pouco mais tinha de seu
Que um filho em cada braço
Na disputa do regaço
Do mimo e terno abraço
E colo onde aninhar
Na esperança de escutar
Em doce voz de embalar:
“Dorme, dorme meu menino…
Tão pequenino, qual será o teu destino…
Que sorte será a tua?”
Já no berço, outro refrão:
“Lua, luar não leves o meu menino
Ajuda-me para o criar…
Deixa-o no sono sossegar.”

Mãe resiliente,
Na sua frágil aparência.
Em dias de tormenta,
De lágrimas a marejar,
Braços já a fraquejar
Ia tomando consciência
Que os meninos a crescer
Muito mais era preciso
Para a ambos sustentar.
E a dura vida de martírio
Só nas contas do rosário
Desfiadas no caminho
Em dias feitos calvário
Traziam algum alívio.

Severo foi o destino
Que a fez mãe e a deixou só,
Esperando meses e anos
Cartas de boas novas
De terras de além-mar
Que tardavam em chegar.
Mas não deixava de sonhar…
Acalentando o desejo
De num navio embarcar
E ao seu marido se juntar.
A carta que enfim chegou,
Tornou tudo repentino
Em estranha forma de dar a mão…
Arrancou-lhe o coração
E tirou-lhe o seu menino.

Da tristeza fez companhia,
Com a dor que nunca passou
E para sempre a marcou,
Trançando-lhe assim o destino
De a todos querer ajudar
Como se tivesse de expiar
Pecados que não eram seus
Pedindo compaixão aos céus
Por tanto querer amar.

Hoje, MÃE,
Em mais um dia que é seu
Não terá um beijo meu
Nem abraços de ternura
Só lonjura, separação…
Mas guardo-a no coração
De alma comovida
E em eterna gratidão
Por um dia em dor e amor
Me ter dado o sopro da vida.

Feliz Dia MÃE!

MM
Maio 2020

MAIO NÃO MERECIA

E nós ainda menos, porque estamos fechados e respeitamos as determinações da Direcção-Geral de Saúde. Fazer manifestações com mais de 800 pessoas, que, não obstante a proibição de circular entre concelhos, tiveram, incompreensivelmente autorização para o fazer e ir para rua festejar o 1º de Maio.
Gosto muito do 1º de Maio, mas não me parece o tempo oportuno para o festejar desafiando um povo confinado, cansado e angustiado.

Em muitos países onde é habitual haver grandes festejos não se celebrou por respeito a todos os profissionais de saúde, que estão hospitalizados, os mortos e as suas famílias que tanto têm sofrido com esta pandemia do COVID-19. Acaso ali se perdeu a democracia?

Tenho o direito de estar zangada, mas, mais do que isso, sinto-me profundamente triste e desiludida.😢

sexta-feira, 1 de maio de 2020

MAIO, MEU LINDO MAIO

Maio é  também tempo de papoilas 
a "crescer num campo qualquer".
Há vermelhas, amarelas, rosa
 e de muitas outras cores!
 Escolham a que mais vos agradar,
cortem-na para festejar
Bom Dia do Trabalhador!

MAIO DE MINHA MÃE

O primeiro de Maio de minha Mãe
Não era social, mas de favas e giestas.
Uma cadeira de pau, flor dos dedos do Avô
— Polimento, esquadria, engrade, olhá-la ao longe —
Dava assento a Florália, o meu primeiro amor.

Já não se usa poesia descritiva,
Mas como hei-de falar da Maromba de Maio
Ou, se era macho, do litro de vinho na sua mão?
O primeiro de Maio nas Ilhas, morno como uma rosa,
Algodoado de cúmulos, lento no mar e rapioqueiro
Como Baco em Camões,
Límpido de azeviche
E, afinal de contas, do ponto de vista proletário,
Mais de mãos na algibeira do que Lenine em Zurich.
(Porque foi por esta época: eu é que não sabia!)

A minha Maromba tinha barriga de palha como as massas
E a foice roçadoira da erva das cabras do Ribeiro
Que se pegou, esquecida, no banco do martelo de meu Avô
Cujas quedas iguais, gravíficas, profundas

Muito prego em cunhal deixaram,
Muita madeira emalhetaram,
Muita estrela atraíram ao bico da foice do Ribeiro
Nas noites de luar em que roçava erva às cabras.
Favas de Maio do meu tempo!
Havia poder popular
Nas mãos de minha mãe, que as descascava como flores
E flores eram de si, na flórea abada
Como se já guardassem flor de laranjeira e açaflor
Nas suas intenções de Maio 1918, para as depor
(Nem pensada sequer) na fronte à minha amada.

Vitorino Nemésio, 
in 'Antologia Poética'