terça-feira, 23 de janeiro de 2024

HOMENAGEM A MEU PAI

Que neste dia, num cantinho do céu, celebra o centenário de nascimento.
💗
Ainda que sem a sua presença física, por estes dias, senti que estava ali em cada uma das pedras que seguram as terras dos socalcos da sua "quinta", - nas Barrocas do Muro - nas paredes da palheira, na mina onde já é outra vez difícil chegar, nas cepas das videiras que teimam em resistir e voltarão a rebentar e tantas pequenas coisas que me fazem os olhos marejar, nesta saudade infinita que o tempo faz aumentar.

Porém, o destino às vezes "conspira", e sem que estivesse previsto, andei pelos "caminhos de meu pai" e a "falar" com ele.
Sentimentos e emoções em catadupa, mas libertadores!

Nesta "viagem", tal como noutras que já aqui fiz, sinto que me falta saber muita coisa sobre os dias de infância/juventude de meu pai aqui vividos e dos quais ele ou minha avó Ana, pouco disseram.
Sinto pena de não ter "puxado" esse assunto na devida altura, a um e outro, e tentar saber de forma mais precisa como foi a sua vivência neste lugar.

Onde quer que esteja, PAI, PARABÉNS!
Nós, aqui, saudosamente recordamos e rezamos por si. 🙏

sexta-feira, 19 de janeiro de 2024

CAMINHOS DE INVERNO, SEM NEVE, APENAS SAUDADE


É assim, na verdade, que vejo e sinto estes caminhos percorridos inesperadamente onde a saudade está presente e neste lugar me abraça, e paradoxalmente a tristeza por maior que seja, se dilui no profundo silêncio dos caminhos da serra e me regenera a alma. 
Não é habitual andar por aqui a subir e descer escadinhas, ou nos caminhos enlameados outrora tão "batidos" e tantas vezes a apanhar estas ervinhas a que chamo "cocilhos" para fazer o "caldo", uma das brincadeiras de menina.
Na verdade, nem sequer sei se por esta época, aqui terei estado, já que o Inverno não era o tempo mais favorável a essa permanência. Se aconteceu foi seguramente há mais de 60 anos, mas sei das muitas dificuldades para aqui chegar em qualquer estação, acrescidas quando um imenso manto de neve tudo cobria 
Minha avó tinha aqui as cabras, e como são animais sempre prontinhos a comer, quando a "inverna" se anunciava de neve por alguns dias - mesmo sem serviço meteorologia os antigos sabiam dessas coisas - minha avó chegava a levá-las para o povo, para as salvaguardar as cabritas e também a ela porque o frio, o vento a neve a e chuva eram elementos de perigo e a respeitar. 
O caminho a percorrer que vinha do Sobral aos Torgais em subida acentuadamente ingreme, aligeirava-se no cimo até a um souto de castanheiros onde ficava mais assente e brando até começar a descer para o Penedão. No regresso era o inverso e não menos complicado ainda mais com carregos maiores à cabeça como era normal! 
Hoje, é só "mordomias". Chegamos de carro, temos calçado, impermeáveis e agasalhos adequados ao tempo de chuva ou de neve. Porém, não temos neve! 
Valeu desta vez a muita água que da serra descia, encharcava as terras, formava pequenas cascatas que corriam paredes abaixo e desaguavam caminhos fora. Uma recompensa para as terras sequiosas e ressequidas. 
A beleza de tanta água a correr em todos os cantinhos fez-me também recordar o quanto chapinhava em todas as poças e chegava a casa toda molhada e cheia de lama, com direito a ralhetes, às vezes castigos e depois a tosse brônquica que "gostava" dessas minhas infantis brincadeiras. 
Esta paisagem, de beleza agreste, mas única, é uma janela aberta todos os dias do ano para prender o olhar, nunca me canso de admirar e me leva a um passado longínquo com tanto de bom como de difícil, mas me fez aprender a sonhar... para lá da serra!
Se estas pedras da pequenina casa - que chamamos palheiro - e as dos caminhos falassem muito teriam para me contar, e eu bem gostaria de saber, tanta coisa que me esqueci de perguntar a quem o poderia fazer. Ainda não sei porque não fui mais longe nas perguntas. Mas sei que estas pedras me abrigaram no passado, me enchem de nostalgia no presente e, ainda acredito, que têm futuro. Nascemos, vivemos, morremos, mas as pedras são eternas! 

Dou-me conta que não sei quem construiu o palheiro. Se já vinha dos meus dos meus bisavós ou se teria sido construído pelo meu avô antes de rumar a terras de Espanha. Estas paredes "combaros" que fazem parte da arquitectura típica do local, também serviam de pouso e alívio dos carregos de quem aqui passava, teriam sido já feitas por meu a pai ou tudo estaria desde ao início? Meu pai, já quase nos anos 80 plantou a videira que faz latada e ainda resiste. Também plantou um pessegueiro neste primeiro patamar, mas acabou por secar num ano de incêndio que andou por cá a "lamber" paredes e até portas!
Outrora tudo limpo, coisa que hoje é impossível fazer, mostra o caminho ladeado de giestas que, não tarda, deixa a paisagem amarela a contrastar com o verde. Até são bonitas as giestas floridas, só é pena serem uma praga que toma conta de tudo e por mais que se arranquem nada as trava. Que ao menos sejam úteis às abelhas! 
Mas, neste dia de Janeiro, acalentou-me a alma este verde da natureza agora lavada, brilhando a cada "estiada" e o Sol acariciava as folhas e flores dos medronheiros, carquejas, e suga-mel que também já despontam adivinhando uma Primavera antecipada. 
Os "pucarinhos", com o me apetece chamar à flor do medronheiro, a cair em cascata indicam uma boa quantidade de frutos para o Outono se o calor de verão, ou algum incêndio não vier outra vez esturricar tudo! 
O céu abriu em final de tarde e a neve, por agora, não pintou a serra das Três Beiras, nem a majestosa Gardunha que espreita ao fundo, e é claro que não desceu ao povoado. O Sol venceu a demanda, mas ainda não perdi a esperança de a ver a neve chegar... talvez um dia... quem sabe, pode calhar!
Nos caminhos da vida, nestas voltas e voltas da serra, em visita inesperada ao meu lugar de eleição, que também era de meu pai, deixou-me aqui parada, apreensiva e a pensar por que razão acontecem assim coisas que não estavam previstas de forma nenhuma. 
Ficam as imagens, as memórias, pedaços da minha história e a homenagem ao meu pai neste mês do seu centenário de nascimento.  Acredito que um pouco de nós aqui ficará para sempre! 

segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

A NOSSA HISTÓRIA E MEMÓRIA

Também passa por aqui e 
é impossível esquecer!
Terra de acolhimento e 
abraço fraterno das suas gentes.
É agora lugar de repouso e
descanso eterno de parte importante 
da nossa família.
🙏

sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

CÉU DE SAUDADE 😪

Sob um céu de intenso azul
Jaz quem amo e me amou
Em chão silencioso e sagrado 
E na terra que adoptou.

Minha avó e meus tios
Juntos na mesma sepultura 
Sei-os ao lado de Deus 
No seu abraço e ternura. 

Mas a certeza não mitiga
O vazio que sinto em mim
E nunca a vida nos prepara
Para a ausência do fim.

Em lágrimas me despeço
E de vós guardarei memória
Sois parte da minha raiz
Do meu caminho e história.

Tanta saudade Deus meu
Carrego hoje no coração 
Que procuro algum sentido 
No silêncio e oração. 

Que a vossa alma descanse
À sombra das asas de Deus
Livres de todos os tormentos 
E para sempre filhos seus.
🙏
Homenagem à minha avó:  
Maria Cândida aos meus tios:  
Pe. António Pinto da Silva e José João da Silva

Mariita
Jan. 2024

quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

BAPTISMO DO SENHOR

SALMO RESPONSORIAL Salmo 28 (29), 1a.2.3ac-4.3b.9b-10 (R. 11b)
Refrão: O Senhor abençoará o seu povo na paz.

Tributai ao Senhor, filhos de Deus,
tributai ao Senhor glória e poder.
Tributai ao Senhor a glória do seu nome,
adorai o Senhor com ornamentos sagrados. 

A voz do Senhor ressoa sobre as nuvens,
o Senhor está sobre a vastidão das águas.
A voz do Senhor é poderosa,
a voz do Senhor é majestosa. 

A majestade de Deus faz ecoar o seu trovão
e no seu templo todos clamam: Glória!
Sobre as águas do dilúvio senta-Se o Senhor,
o Senhor senta-Se como Rei eterno. 
🙏

E, com todas as contrariedades impostas pelas leis dos homens, tendo o meu tio falecido no dia  5, só foi possível fazer o funeral no dia 8. Porém, talvez que tudo isso já estivesse nos desígnios de Deus, que são insondáveis, e foi no Dia do Baptismo do Senhor, dia de festa e particularmente significativo para os cristãos, a missa do seu funeral. Há coisas que não se explicam! 

sábado, 6 de janeiro de 2024

SILÊNCIO NA PAISAGEM

Nestes caminhos tão familiares que sei já ter percorrido tantas vezes por bons motivos, hoje, infelizmente, não é assim. 
Abstraio-me com a velocidade da viagem e dos carros que vão circulando e tudo parece tornar-se mais fácil. É apenas ilusão!
Há vozes adormecidas que agora parecem acordar e com elas vou a dialogar, em silêncio, sobre cada pedação de chão, cada árvore e cada nova cultura em expansão. 
Que diria meu tio Padre se voltasse agora aqui a passar connosco, a guiar o seu carro, e bem conhecedor de todo este território fazer de verdadeiro cicerone como tanto gostava?
Hoje, porém, a sua missão é seguramente outra e não menos importante. Acolher o irmão mais novo no Reino dos Céus, levá-lo à presença de Deus e ao abraço dos pais e irmãos que já lá se encontram. 
Sinto a voz embargada, uma lágrima a deslizar na face e o silêncio da paisagem esmaga-me! 

MENSAGEM DO CÉU 🙏

Neste dia, 6 de Janeiro, olhei o pôr-do-sol e pensei: alguém que chegou ao céu enviou-nos esta mensagem de esplendor e luz!
O sentimento de perda é imenso e pode dizer-se que há sinais para nos ajudar a atenuar a dor. Acredito que há algo de mistério quando num dia de Janeiro acontece um pôr-do-sol assim! 🙏

sexta-feira, 5 de janeiro de 2024

MEU TIO, MEU PAI, MEU AMIGO

PAI da minha infância,
Amparo dos meus primeiros passos 
A segurar-me nos seus braços 
E a elevar-me ao céu
Para apanhar uma estrela.
Podia lá haver coisa mais bela? 

Outra brincadeira se seguia
Eu bem presa na sua mão 
Rodando como um turbilhão
De olhos fechados já tremia
Enquanto ele assobiava, sorria, sorria  
E perguntava: 
Então, já chega, pequena Maria?

Separadas as nossas vidas
Na longa distância dos continentes
Mas sempre unidas nas coisas importantes
Amadas e queridas.
Quando a vida nos voltou a juntar
E os seus braços me apertaram sem parar
Foi como voltar à meninice 
Ao Barreiro, à sua oficina de sapateiro. 
E debaixo da sua alçada, eu ali sentada 
A estudar a tabuada que era preciso saber 
Ou a escrever vinte vezes cada palavra errada
Que no ditado, na redacção ou na cópia
Deixou marca de "borrão"!

Tanto vivemos Tio Zé!
Festejamos, sofremos, choramos
E uma torrente de recordações,
Sentimentos e emoções me assaltam nesta hora.
Sinto profunda tristeza e minha alma chora 
Porque não mais ouvirei a sua voz 
Às vezes a protestar, às vezes a “mangar”
E a soltar a mais sonora gargalhada 
Que alguém podia escutar.

Tanto tinha ainda para dizer, contar e recordar
Como as primeiras cerejas de Maio
Em mil novecentos e setenta e cinco
Que para África, não deixou de me enviar!
Só um coração de ouro, atento e delicado
Se lembraria desse desejo, 
Por uma futura mãe ansiado!

A Rua da Eira Cimeira ficou mais vazia.
Trespassa-nos a dor, ficamos mais sós.
Perdemos mais um pilar da nossa vida,
Que nos unia numa grande família
E com ele vai hoje uma parte de nós.

É profunda a saudade que este dia hoje traz
Soltam-se lágrimas, embarga-se a voz
Nada mais digo, não sou capaz!

Meu querido Tio, Pai e Amigo 
Que o Bom Deus o receba em terno abraço
O faça descansar no esplendor da sua Luz 
E na eterna serenidade da sua Paz!

Mariita
Janeiro 2024