PAI da minha infância,
Amparo dos meus primeiros passos
A segurar-me nos seus braços
E a elevar-me ao céu
Para apanhar uma estrela.
Podia lá haver coisa mais bela?
Outra brincadeira se seguia
Eu bem presa na sua mão
Rodando como um turbilhão
De olhos fechados já tremia
Enquanto ele assobiava, sorria, sorria
E perguntava:
Então, já chega, pequena Maria?
Separadas as nossas vidas
Na longa distância dos continentes
Mas sempre unidas nas coisas importantes
Amadas e queridas.
Quando a vida nos voltou a juntar
E os seus braços me apertaram sem parar
Foi como voltar à meninice
Ao Barreiro, à sua oficina de sapateiro.
E debaixo da sua alçada, eu ali sentada
A estudar a tabuada que era preciso saber
Ou a escrever vinte vezes cada palavra errada
Que no ditado, na redacção ou na cópia
Deixou marca de "borrão"!
Tanto vivemos Tio Zé!
Festejamos, sofremos, choramos
E uma torrente de recordações,
Sentimentos e emoções me assaltam nesta hora.
Sinto profunda tristeza e minha alma chora
Porque não mais ouvirei a sua voz
Às vezes a protestar, às vezes a “mangar”
E a soltar a mais sonora gargalhada
Que alguém podia escutar.
Tanto tinha ainda para dizer, contar e recordar
Como as primeiras cerejas de Maio
Em mil novecentos e setenta e cinco
Que para África, não deixou de me enviar!
Só um coração de ouro, atento e delicado
Se lembraria desse desejo,
Por uma futura mãe ansiado!
A Rua da Eira Cimeira ficou mais vazia.
Trespassa-nos a dor, ficamos mais sós.
Perdemos mais um pilar da nossa vida,
Que nos unia numa grande família
E com ele vai hoje uma parte de nós.
É profunda a saudade que este dia hoje traz
Soltam-se lágrimas, embarga-se a voz
Nada mais digo, não sou capaz!
Meu querido Tio, Pai e Amigo
Que o Bom Deus o receba em terno abraço
O faça descansar no esplendor da sua Luz
E na eterna serenidade da sua Paz!
Mariita
Janeiro 2024
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