Neste dia em que, mais uma vez, o seu belo manto verde está a ser destruído por um terrível incêndio, fica o meu sentir em palavras que escrevei em 2019.
MINHA TERRA
Meu chão sagrado, amado.
Minha memória e raiz.
Terra do presente e do passado,
Do meu coração força motriz.
Aos alvores da madrugada
Oiço o canto primeiro,
Dos bandos de passarada
Que moram no meu telheiro.
Abro devagarinho as janelas
E a serra à minha frente
É enfeitada de courelas
Onde há vida permanente.
Vejo no forno da Bica
A masseira e o tigelão.
Haverá cheirinho a pica
Quando se cozer o pão.
Sinto o murmúrio da fonte
A correr sempre ligeira
E que por baixo da Ponte
Vai abraçar a ribeira.
Percorro estreitas ruas,
Travessas, becos e quelhas,
Sei a mudança das luas
Na sombra das casas velhas.
Sinto o vento da guieira
Nas manhãs húmidas e frias,
Conheço a terra soalheira
E o lamento de ruas vazias.
Passos lentos na calçada
Da minha gente envelhecida
Que triste, só e abandonada
Se reergue enraivecida.
Do Barreiro à Portela
Até vou peregrinar
E não há coisa mais bela
Que à Santa Bárbara rezar.
Para mim não quero nada,
Mas com fé e sem palavras;
Peço o milagre da estrada
Covilhã, Pedras Lavradas…
Olho então este “meu mundo”
Do monte do Santuário,
Lá do alto até ao fundo
É o mais belo cenário.
Na história deste lugar
Do “Centro do Universo”,
Eu conjugo o verbo amar
E é onde sempre regresso.
MM
2019
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