Depois da Solenidade de Todos os Santos, vem o Dia de Fiéis Defuntos e era neste dia que outrora se faziam as romagens aos cemitérios, o que se alterou com a crescente debandada para outras formas de vida que não a rural, com horários de trabalho incompatíveis com essa tradição, transferindo-se a mesma para o Dia de Todos os Santos que é feriado.
No entanto guardo ainda memória dos tempos em que ao longo do ano o tempo era escasso para visitas e arranjo de campas no cemitério por parte de quem lá tinha os seus, ou também pelo facto de existir um coveiro que lá ia mantendo a dignidade do campo santo. A visita saudosa acontecia quando mais alguém falecia ou em Dia de Finados!
Na véspera desse dia, depois de cumprido o preceito da missa solene de Todos os Santos, havia grande azáfama no cemitério a limpar as ervas, a endireitar cada sepultura, e zelosamente a "ripar" ou desfolhar pequenas flores que não tardaria seriam colocadas em cima da terra, com desenhos artisticamente bem elaborados e todos os pequenos espaços preenchidos por uma "chuva" de pétalas. Um primor, que me fazia andar por lá a cirandar entre campas, onde o mármore era raro e o plástico inexistente, e deslumbrar-me em cada ano com o mais belo jardim coberto de crisântemos brancos, amarelos e rosa!
Quantas vezes o Dia de Fiéis Defuntos - tal como hoje - era chuvoso, cheio de neblina, o frio da serra já a fazer-se sentir, e marcado ainda por celebrações em que as palavras, cânticos, orações, silêncio, lágrimas e a cor negra das roupas que se vestiam faziam adensar ainda mais a profunda tristeza que cada um carregava na alma. Apenas as flores me parecia terem aqui o papel mais bonito, por devolverem aos olhos de quem as via um pouco de brilho e esperança.
A maravilhosa natureza dá-nos uma variedade infinita de flores e as de cor roxa - que não deixam de ser belas - simbolicamente remetem para a saudade, tristeza e luto. No entanto, que me lembre, não era uma cor presente em flores no Sobral, onde predominavam nesta época os crisântemos (carvalhas) das cores já acima referidas e com destaque para os brancos.
Felizmente, hoje há flores de todas as variedades, feitios e cores que - indiferentes à conotação que lhes é dada- os moradores da aldeia plantam e cuidam tornando cada recanto ainda mais belo e aprazível
O importante a realçar sobre as flores é que o simbolismo da cor não é igual em todas as culturas, e se gostamos de uma determinada flor esqueçamos essas "varas" com que querem prender-nos e façamos a nossa oferta livre com amor e muita alegria. As flores, tenham elas a cor que tiverem, são sempre bonitas e oferecê-las revela uma alma generosa e sensível.
Em dia de Todos os Santos e de Fiéis Defuntos, as campas nos cemitérios enchem-se de belas flores silvestres ou de jardim que em breve estarão murchas e secas. Quando colocarmos as nossas flores na sepultura de quem nos é querido, façamos uma oração e depositemos nelas um beijo, pois assim, enquanto durarem, fica ali um pouco de nós e da nossa eterna saudade pelos que nos fazem tanta falta e a “morte de nós separou, mas não matou.”
Assim o lembra o Pe. João Aguiar num belíssimo texto que circula nas redes sociais e pode ser lido em https://www.facebook.com/paroquia.de.mangualde/posts/514651988871731
Sem comentários:
Enviar um comentário