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segunda-feira, 10 de outubro de 2022

MURAL DE HOMENAGEM AOS MINEIROS

Um dos motivos que me levou este ano a São Jorge da Beira, para além de conhecer a aldeia, foi também a curiosidade de ver este Mural de Homenagem aos Mineiros que trabalharam nas Minas da Panasqueira.
Não há na aldeia qualquer indicação sobre a localização do mural, pelo menos eu não vi. Mas o velho ditado de "quem tem boca vai a Roma" continua actual. Dão-se "dois dedos" de conversa com alguém e logo se faca a saber onde é. 
O caminho que me indicaram é o mesmo que leva à capela de Nossa Senhora de Fátima, que já aqui mostrei. O mural começa a ver-se ao longe, pois os seus 52 metros quadrados assim o permitem e foi pintado pelo conterrâneo e conceituado artista Luís Geraldes, que quis assim homenagear os mineiros e deixar aqui a sua marca.
O enquadramento é perfeito, mas confesso que fiquei triste por ver a pintura neste cenário um bocadinho desleixado. Possivelmente o terreno é particular e, se for, muito dificilmente aqui nascerá um jardim. Toda esta envolvente devia estar cuidada por respeito à arte e enriquecer ainda mais a obra.
Todo o sofrimento de várias gerações de mineiros e das suas famílias foi, e é, como espadas que se cravam e dilaceram o coração quando o lembramos. 
É inegável que o Luís Geraldes com as imagens de espadas, olhos abertos de profunda angústia e homens que não se vergavam perante condições tão desumanas e venciam todos os medos, soube muito bem interpretar esse sofrimento que se colou à alma e contar esta negra história que faz parte das nossas vidas. 
Fiquei aqui longos minutos em silêncio... a recordar os meus avós que não conheci, foram mineiros, e pelo menos o materno ficou incapacitado devido às minas e morreu muito novo. E a "espada" mais funda no coração é a memória do meu tio João, que morreu de acidente dentro das minas, ao que sei nos chamados "tanques de cal" onde caiu.
Fecho os olhos e oiço ainda os gritos de minha tia, tão jovem, viúva, com 3 filhos pequeninos de cinco e seis anos e a mais nova de apenas seis meses. O desespero de minha avó, a quem as minas roubaram o marido e agora lhe levavam um filho na flor da idade. De minha mãe e dos meus tidos inconsoláveis perante mais esta perda. Eu tinha seis anos e nunca o esqueci! 

Obrigada, Luís Geraldes pela homenagem, que pela arte da imagem me trouxe à memória tantas recordações, ainda que dolorosas, e que a par do grito dos mineiros cantado no seu hino - de arrepiar até à medula - já tinham sido avivadas, quando o escutei no ano passado no recinto da escola do Sobral. A mesma escola onde alguém me veio buscar sessenta e um anos antes porque o meu tio tinha morrido de acidente nas Minas da Panasqueira.   
HINO DOS MINEIROS 

No poço de s. João
Morreram muitos mineiros 
Vê lá, vê lá companheiro, vê lá
Vê lá, como venho eu

Trago a cabeça aberta
que me abriu uma barrena
vê lá, vê lá companheiro, vê lá
Vê lá, como venho eu

Trago a camisa rota
e sangue de um camarada
Vê lá, vê lá companheiro, vê lá
Vê lá, como venho eu

Santa bárbara bendita
Padroeira dos mineiros vê lá
Vê lá, vê lá companheiro, vê lá
Vê lá, como venho eu

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