Hoje, lá longe,
No meu kimbo
Se faz grande festa.
E eu corro para lá
A toda a pressa,
Antes do Sol nascer
Para o ver resplandecer
Em aurora de novo dia,
De liberdade e Alegria!
No caminho de terra batida
Já escuto com emoção
O som ritmado do batuque
Alvoraçando meu coração.
E vejo meninos correndo
Em frenético reboliço
À volta de uma fogueira
Festejando nova Nação!
Da vizinha sanzala virá gente,
Da vila e da cidade também.
Há pirão, peixe seco,
Galinha com molho de déndem
Churrasco, manga e pitanga.
Venham! Venham!
Que não falte ninguém!
Todos sorrindo, bailando
Comendo, matando a sede.
Mais um trago de cachipemba.
Pobre, não tem emenda…
E sempre cai na rede
De sentir alegria e magia,
Enganando a tristeza,
Se tem migalhas na mesa!
Há flores, muitas flores,
De variadas cores,
Que bem cedo um seculo colheu,
E ali ofereceu às belas cafecos,
De tranças negras e panos garridos,
Que bamboleiam as ancas,
Ao ritmo do merengue,
Dengosas, atrevidas,
Oferecem sorrisos!
De mansinho
A noite cai sobre a savana.
O Sol esconde-se no horizonte,
O kimbo volta à sua calma.
Cala-se o batuque, o silêncio mói.
Olho o céu estrelado, infinito, amado,
Definha a esperança, o coração dói.
Reina a tristeza... o sonho voou.
Desprende-se uma lágrima.
A festa acabou...
MM
Nov. 2020
Nota: significado de algumas palavras menos conhecidas - kimbo: aldeia; cachipemba: tipo de aguardente; cafecos; raparigas.
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