quarta-feira, 11 de novembro de 2020

A FESTA, SEM FESTA

Hoje, lá longe, 
No meu kimbo
 Se faz grande festa.
E eu corro para lá
A toda a pressa,
Antes do Sol nascer
Para o ver resplandecer
Em aurora de novo dia,
De liberdade e Alegria!

No caminho de terra batida
Já escuto com emoção
O som ritmado do batuque
Alvoraçando meu coração.
E vejo meninos correndo
Em frenético reboliço
À volta de uma fogueira
Festejando nova Nação!

Da vizinha sanzala virá gente,
Da vila e da cidade também.
Há pirão, peixe seco,
Galinha com molho de déndem 
Churrasco, manga e pitanga.
Venham! Venham!
Que não falte ninguém!

Todos sorrindo, bailando
Comendo, matando a sede.
Mais um trago de cachipemba.
Pobre, não tem emenda… 
E sempre cai na rede
De sentir alegria e magia,
Enganando a tristeza,
Se tem migalhas na mesa!

Há flores, muitas flores, 
De variadas cores,
Que bem cedo um seculo colheu,
E ali ofereceu às belas cafecos, 
De tranças negras e panos garridos,
Que bamboleiam as ancas,
Ao ritmo do merengue,
Dengosas, atrevidas, 
Oferecem sorrisos!  

De mansinho
A noite cai sobre a savana.
O Sol esconde-se no horizonte,
O kimbo volta à sua calma.
Cala-se o batuque, o silêncio mói.
Olho o céu estrelado, infinito, amado,
Definha a esperança, o coração dói.
Reina a tristeza... o sonho voou.
Desprende-se uma lágrima.
A festa acabou... 

MM
Nov. 2020  

Nota: significado de algumas palavras menos conhecidas - kimbo: aldeia; cachipemba: tipo de aguardente; cafecos; raparigas. 

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