segunda-feira, 8 de agosto de 2022

TERRITÓRIOS SERRANOS

Em Julho deste ano dei por mim a percorrer caminhos que já conhecia, mas onde há muito não passava, como é o caso de Porcim, servido agora por uma estrada de montanha, asfaltada, mas estreita, onde se deve circular com a maior das precauções, o que nem sempre acontece como logo tive ocasião de constatar!
A estrada a que faço referência liga finalmente Casegas e também Sobral de S. Miguel a São Jorge da Beira, e concretizou uma aspiração tão antiga destes povos que, tal como eles dizem, "já não merece festa"! 
A serrania é a paisagem constante neste território que me encanta, rico na sua vegetação diversificada que gosto de conhecer e me traz motivos para ver e aprender o muito que ainda me falta saber. 
Numa curva do caminho vislumbro as Minas da Panasqueira e, lá no alto, olhando-as a esta distância parecem-me ainda imponentes. Inevitavelmente penso que apesar de terem trazido um pouco menos de fome e miséria às gentes destes territórios serranos, não posso deixar de me entristecer com todas as tragédias humana que - atrevo-me a dizer - todas as famílias (incluindo a minha) viveram e sofreram, para além das nefastas consequências ambientais que ainda perduram.
"Encalacrados" ou encurralados entre serras, penhascos, pedras, socalcos, e pinhais surgem pequenos povoados, outrora grandes não tanto pelas habitações, mas principalmente pelo número de almas que neles residiam, trabalhavam e geravam vida.
A arquitectura da casa e o painel de azulejos mostram uma outra era, a da emigração, que na década de 60 fez debandar gerações inteiras. São Jorge que lá do alto vigia e guarda a casa, certamente pela devoção de quem o lá mandou colocar, mas também em homenagem à terra: São Jorge da Beira, que piso hoje pela primeira vez!
Chego, e quase sem me aperceber, "entro" logo nas ruelas da aldeia, sem que me seja dado ver a paisagem em que está envolvida, embora não seja difícil de imaginar! Aproveito então para conhecer -o possível - de uma obra de solidariedade social de que há muito já tinha ouvido falar.  
O Centro de Solidariedade Social de São Jorge da Beira, fundado em 1991 pelas forças vivas da terra, que como muitas outras tiveram o grande apoio dos emigrantes, foi inaugurado em 1992 e é hoje o garante de protecção a quantos dela estão carenciados.
Devido às restrições impostas pela Covid 19 não foi possível visitar as instalações, mas o exterior é muito agradável e convidativo. De acordo com informação ali prestada existe o chamado serviço de "take away". Encomendar a refeição e ir buscá-la!   
Nunca é demais realçar o papel das Associações de Solidariedade, mas também de muitas outras Associações e Clubes pelos serviços prestados, dignificação das pessoas na ajuda à qualidade de vida e envelhecimento activo nos locais em que se inserem. Infelizmente, porque a desertificação continua a ser uma realidade muito triste e dura, alguns dos serviços que aqui vemos anunciados já não estão disponíveis no edifício.
A escola, com grandes portas e janelas aberta ao conhecimento e enriquecimento da cultura e saberes, outrora um "mundo" de crianças, está hoje quase "moribunda" de vida. Esta felizmente ainda funciona e que assim aconteça por muito e bons anos. E, porque está de frente para o Lar, tenho a certeza que encherá de alegria quem dos quartos sente a algazarra e das janelas avista as crianças no pátio do recreio!
O calor abrasador que neste dia de Julho se fazia sentir, na hora pouco conveniente a que aqui pude vir, não deu margem para grandes passeios... 
Ainda que as ruelas apresentassem algumas sombras, a opção foi mesmo apreciar o possível de dentro do carro, com o fresco ar condicionado a tornar a viagem bem mais aprazível. 
Fica a vontade de voltar um dia, em tempo bem mais ameno, e se ainda houver "pernas" descobrir os recantos que ficaram por ver, incluindo a Casa Museológica vista de "raspão"!
A Casa Museológica encontra-se no centro da aldeia e "exibe mobílias e utensílios antigos; utensílios e referências às minas, incluindo pedras de lá extraídas; roupas antigas e manequins à antiga; instrumentos musicais; adega e respetivos utensílios, bem como alfaias agrícolas. Desta forma a Casa-Museu permite preservar a cultura relativa aos usos e costumes dos antepassados."
Estou certa de que ainda há muita vida nesta Aldeia de Montanha de nome São Jorge da Beira e vai saber resistir pela espada do seu patrono a todas as intempéries. 

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