DAVID DA SILVA FERREIRA
O Ferrolho (o Ginjas)
Um ano voou!
E...
DEPOIS DE TI,
Em cada dia, a Ponte,
Amanhece e anoitece vazia
Sem nada que se conte.
O relógio, no alto nada vigia…
Sem corda parou…
Talvez na hora derradeira
Em que a tua mão poisou,
O Ferrolho da porta acariciou
E em lento movimento a encerrou.
DEPOIS DE TI,
Já não há desassossego,
Nem vai e vem de passos,
Noitadas, encontros, abraços.
O tinir de garrafas e copos, o brinde…
Com "chiripiti dos mortos”!
Conversas em decibéis de 100,
Divergências, impropérios
E o maior dos mistérios...
No Ginjas, tudo acabava bem!
DEPOIS DE TI,
Corre a fonte em melancolia,
Por não sentir o teu saudar
E a ribeira, companheira,
Escorre em lento marulhar.
Há profunda nostalgia,
O silêncio dói, arrepia,
Esmaga e morde a alma...
Sufocando o meu grito
De raiva por tanta calma!
Subitamente o sino toca.
Estremeço...
Acordo deste triste lamentar.
Olho paredes, janelas e rosas
Tudo é tão familiar.
Sinto aroma de cigarro
Num sopro que o vento traz…
Estás aqui, amigo meu!
Oiço passos e tantas vozes
Que te vieram homenagear!
Ao longe fico a escutar,
Palavras bonitas e tão merecidas,
Que por um fugaz momento
Vi o brilho cristalino e intenso
Do teu irrequieto olhar.
Acendes mais um cigarro,
E por entre anéis de fumo
Parece-me a tua mão a acenar
Como que a pedir desculpa
Por ali não poderes estar.
Mas no teu berço e raiz,
Na casa que tanto amaste,
Feita memória e legado
Para quem a quiser ver,
Tens hoje o nome gravado
No xisto que te encantou
E ao mundo deste a conhecer.
Que o futuro seja hoje.
Permaneça indelével o preito.
De geração em geração
Se transmita com respeito;
Que na travessa do Ginjas
Viveu um grande coração
E de espírito livre feito!
MM
Agosto 2022
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