segunda-feira, 24 de abril de 2023

COMO ABRIL ME ENCONTROU

Em longes terras de áfrica, Abril encontrou-me vestida de sonhos de todas as cores e com uma esperança renovada no futuro, numa Angola de terra vermelha, rios e mar de azul profundo, fauna e flora únicas, florestas a perder de vista e riquezas incomensuráveis que geravam "apetites" vorazes...!!
Terra esta que, "embalada" por algum desenvolvimento propiciado pela guerra, muitos se esqueciam que essa chaga existia e, mais ainda, que o regime vigente era uma ditadura, tal era o "grau" de liberdade usufruída nas cidades e vilas, apenas mais restrita e "vigiada" nas chamadas "zonas operacionais".

Ao ter conhecimento do 25 de Abril, no primeiro momento, surgiu a apreensão pela falta de informação mais concreta, que foi sendo mais nítida ao longo das horas, até porque estava a trabalhar no Rádio Clube do Huambo e as notícias chegavam mais rapidamente, ainda que a "conta gotas". Porém, havia sempre a possibilidade de recorrer a outras fontes e, se já no tempo que vivia em Vila Artur de Paiva, meu pai, tentava pelo menos uma vez por semana, sintonizar a BBC no velhinho rádio de bateria, estando numa estação de Rádio mais fácil era ter informação por essa via.

Os ânimos foram serenando e a já muito esperada mudança política, para melhor, foi tomando conta das conversas vislumbrando-se o essencial: acabar a guerra fratricida que na flor da idade levava tantos jovens à morte ou a ficar estropiados para o resto das suas vidas, e a tão desejada independência da chamada Metrópole, cuja política de desenvolvimento traçada para as chamadas colónias desagradava a todos, quer fossem nascidos em Angola ou dela tivessem feito a sua PÁTRIA!

Rejubilei e, como tantos, festejei! Meu irmão estava na guerra, zona Leste, talvez das piores nesse tempo, o que fazia minha mãe andar angustiada e chorar todos os dias. Se a guerra terminasse, em breve o teríamos de volta e bem a tempo do meu casamento que seria em Setembro de 1974.

Porém, não foi assim tão fácil!  Ele veio, mas teve de voltar... e, aos poucos, densas nuvens negras começaram a surgir no quente céu africano e o desalento foi tomando conta da minha vida e de todas as vidas que sonharam como Sophia de Mello Breyner Andresen:  "o dia inicial inteiro e limpo"...

Podia ter sido diferente? Talvez... não sei...!! Mas sei que não é justo agrilhoar povos sob um jugo que não querem e, sobre isso, ainda há muita história por fazer e muitas estórias para contar que hoje não cabem aqui.

Importa, sim, olhar os erros do passado, todos os dias, para que não se repitam e defender a LIBERDADE e a PAZ como bens que não se podem deixar perder e, só num regime democrático se podem ter, cabe a cada um fazer a sua parte! 

Abril, em Portugal e no Mundo, hoje e sempre!💗

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