"O seu a seu dono" - assim diz o ditado. Importa, por isso, respeitar todos os conteúdos que nesta página são publicados - citar a sua proveniência se usar - e não se apropriar indevidamente deles. BEM-HAJA!

segunda-feira, 11 de novembro de 2024

OUTONANDO E PENSANDO 🍂🍁🍂

Os dias a correr sem dó nem piedade e o meu tempo a esgotar-se enquanto mil ideias fervilham na minha cabeça sem conseguir alinha-las em escrita bonita e perfeita para aqui deixar como recordação deste Outono dourado que, não tarda, é passado!
Regresso mais uma vez a casa, à terra, à raiz e o Outono encanta-me nas múltiplas cores de que toda a natureza se reveste com árvores e arbustos de folha perene que se mantêm quase inalteráveis, mas outras desnudam-se lentamente e as folhas brincam ao vento, rodopiam se há vendaval e tentam esconder-se em cantos abrigados, ou ficam agarradas umas às outras no chão onde fazem tapetes como se ali fosse passar uma procissão.
Nos dias sem chuva ou nevoeiro, o céu é azul e de tão intensa luminosidade que fico a olhar à minha volta. Admiro os castanheiros que ainda resistem, árvore frondosa que escolho para ilustrar estas palavras, mas por ali ainda algumas oliveiras, os encantadores medronheiros, o verde pinheiral e tento reter para sempre cada imagem fugidia deste tempo que fenece. 
Volto às cores outonais e as folhas que se desprendem nestes pequenos dias e, perdoe-me a ousadia, comparo-as à humanidade na sua imensa diversidade, porém muito diferentes porque convivem em perfeita harmonia umas com as outras, não importando se uma é mais pequena, mais clara ou mais escura, se cai antes ou depois; todas têm o seu importante lugar e são imprescindíveis para que a natureza se nutra e renasça em plenitude. Era tão bom que a humanidade tivesse este exemplo sempre presente no coração e no pensamento e tudo seria bem diferente.
Os ouriços espalhados pelo chão remetem-me para o tempo de menina quando ia ao rebusco e com uma pequena pedra por causa dos picos "esbrinçava" (há quem diga esbritava) os ouriços na procura das castanhas que agora já não "faziam piolhos"!
Pois... a "psicologia" da época, que mães e avós exerciam, dizia que era vedado comer castanhas cruas porque faziam piolhos! Porém, a verdadeira razão, era para que a criançada não se metesse em aventuras a subir aos castanheiros e deles cair a roubar (ou estragar) castanhas quando ainda não estavam devidamente criadas e tinham dono. Quando o dono apanhasse, então já podíamos ir ao rebusco e comer que não fazia mal!  As mães e avós sabiam sempre o que era melhor! 
Se a humanidade de qualquer cor e credo, nos dias de hoje, olhasse bem para as lições que a natureza nos dá, reflectisse e não repetisse os erros do passado, tomaria as decisões certas e, tal com o ás arvores, os arbustos e todas as plantas, todos os povos conviviam em harmonia.
Por entre a estreitas veredas da serra, caminho absorta nos meus pensamentos e o meu coração está hoje longe, muito longe... e, como se cinquenta outonos não tivessem passado, parece-me que vem até mim o som das vozes do coro da Sé Catedral do Huambo e escuto: "Se ouvires a voz do vento / Chamando sem cessar / Se ouvires a voz do tempo / Mandando esperar / A decisão é tua /  A decisão é tua...."
Esta paisagem, este tempo, trouxe-me memórias e também uma saudade infinita do que vivi e perdi, mas também estou muito grata por me ter reencontrado de novo aqui no meu chão e na minha raiz que nunca sairá de mim.  
Ainda que o coração muitas vezes esteja dividido, a tristeza se acentue pelas sombras dos ramos estendidos dos castanheiros, o pensamento divague entre o que podia ser e não foi, ainda assim, não esqueço este dia e digo: Parabéns, ANGOLA! 

Sem comentários: