terça-feira, 1 de junho de 2021

NO MEU TEMPO DE CRIANÇA...

Vivi a infância num tempo em que ninguém falava do Dia Mundial da Criança, que quando nasci já tinha sido declarado oficialmente em 1950, ao que leio, "na sequência do congresso da Federação Democrática Internacional das Mulheres, realizado em 1949, em Paris."

Parece que Portugal, à semelhança de outros países, também adoptou este dia para celebrar o Dia da Criança, mas desconheço quando realmente começou a haver sensibilização efectiva para os direitos das crianças e para a necessidade de em todo o lado se promover uma melhoria das suas condições de vida, para que, independentemente da família e do local onde nasceu pudesse ter pleno desenvolvimento. 

Essa pequena grande revolução tardou a chegar às aldeias, vilas e cidades ou onde quer que houvesse gente pobre a precisar do trabalho dos filhos... 

Apesar de tudo, tive muita sorte em viver a infância na aldeia, pela liberdade de que desfrutava, pela brandura de minha mãe, da minha avó Ana, até de meu tio padre, quando estava no Azinhal, e de todo um conjunto de circunstâncias que me permitiram, para além da escola, fazer (quase) o que bem me apetecia!
Essa liberdade, numa aldeia de “brandos costumes”, às vezes, não era muito bem vista por algumas pessoas que me lembro de “infernizarem” a vida de minha mãe por me dar tal liberdade… numa idade entre os 5 e os 10 anos!

Porém, onde comecei a sentir, de facto, da parte dos adultos outra forma de tratar as crianças aconteceu na minha viagem de barco para Angola. 
A entrada na escola foi outra revelação, pois os professores já tinham posto de lado os castigos físicos,  dialogavam e estimulavam os alunos a aprender mais e melhor. Os castigos eram ler mais, escrever palavras difíceis…
Na catequese, também os catequistas dispensavam os métodos do medo e a revelaram-me um Deus "diferente" daquele que sempre me tinha sido mostrado.
Era, na verdade, outra forma de ver e viver as coisas, em que as crianças tinham já o seu espaço, mas "entravam" sem problemas no mundo dos adultos, não sendo postas à margem nas festas ou convívios.

Para assinalar este dia, lembrei-me desta foto que me recorda muitos dias felizes vividos na infância, aqui com o belo rio Cubango por trás de mim em dia de picnic. Recordo que havia poucas crianças nesse dia de convívio, mas não foi por isso que faltou a diversão e a aventura, que me levou a cair ao rio, que não era bem como a ribeira do Sobral, e precisei de ajuda para sair de lá, antes que algum jacaré se banqueteasse!

Depois de sair da escola primária, mais um ano em preparação para exames à escola e ao liceu, em que fui bem-sucedida, mas infelizmente aconteceu o grande "embate" com a realidade, e tive de deixar de sonhar com a continuação dos estudos, só viável a mais de 300 km de distância, que por falta de recursos financeiros era impraticável.

Fui trabalhar e acabou-se a meninice aos 12 anos!

Sem mágoa, porque me foi dado ter outra escola com aprendizagens que muito me valeram na vida. E, porque é sempre tempo, alguns estudos vieram mais tarde quando a vida o permitiu e de certa forma exigiu! 

Bem lá no fundo, mantenho o espírito de criança... e gosto!

Feliz Dia da Criança!💗

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